quinta-feira, 21 de junho de 2012

Reencarnação: História mundial de uma ideia II


Capítulo VII: Cosmovisões de protesto e sociedades religiosas na Modernidade.

Espiritismo: a embaixada dos espíritos superiores.

            A tese fundamental do Espiritismo é a de que um contato entre personalidades deste e do outro mundo é essencialmente possível. O Espiritismo evoca para si a condição profética do Judaísmo e do Cristianismo, mas também se funda no campo da experimentação. Desde os seus princípios ele teve de combater em duas frentes. De uma lado luta contra a orientação materialista sobre este mundo... e virou-se, de outro lado, contra elementos rígidos do Cristianismo dogmático-confessional. (pg. 173)
            É fundamental diferenciar o espiritismo científico, exclusivamente dedicado a provar a sobrevivência da alma após a morte do corpo, e o espiritismo revelado ou espiritualismo.
            O representante mais importante do espiritismo europeu e sul americano é o médico e erudito León Hyppolite Denizard Rivail, conhecido pelo pseudônimo de Allan Kardec. (pg. 174)

Obs: Após uma curta exposição do “espiritismo de Kardec”, Obst conclui enfatizando ser ele marcado e diferenciado de outros tipos de espiritismo pelo fato de incluir a reencarnação como elemento fundamental de sua coerência teórica. Interessante notar que o autor define Kardec como médico, e escreve seu nome errado (já corrigimos a grafia acima).Obst apresenta também informações que, conquanto não exatamente incorretas, soam confusas. Tudo nos leva a crer que seu conhecimento biográfico sobre Kardec é indireto, tendo lido tão somente o Livro dos Espíritos e obras alemãs.

            O Espiritismo estende as exigências quanto a uma interpretação racional do mundo, onde um mundo transcendente de existência concreta está inserido. (pg. 180)

Teosofia: A reencarnação como verdade primordial

            A teosofia cresceu às margens do espiritismo e do ocultismo, assim como nos bastidores de um crescente interesse pelas religiões não cristãs, especialmente o Budismo e o Hinduísmo. (pg. 181)
            A figura central da teosofia é a russo alemã Helena Blavatsky, nascida condessa de Hahn, seguida pelo americano Oberst Henry Olcott.
            Além de pregar a reencarnação, a teosofia apresenta uma doutrina dos mestres, que reencarnariam de tempos em tempos para iluminar a humanidade. Krishna, Buda e Jesus estão entre essas grandes personalidades. (pg. 182-183)
            Mahatma Gandhi foi uma das personalidades influenciadas pela teosofia, e inclusive mantinha uma foto de Annie Besant (teósofa da geração posterior a Blavastky), em seu escritório. (pg. 184)
           
Antroposofia: O conhecimento que conduz ao desdobramento do Eu.

            A mais importante, porque a mais influente derivação da teosofia, é a antroposofia. Quando a teosofia se subdividiu em uma divisão hindu, liderada por Krishnamurti, e uma divisão cristã, liderada por Rudolf Steiner, surgiu a antroposofia.
            A senda investigativa da antroposofia inclui meditação, exercícios espirituais e especulação racional. Jesus Cristo desempenha um importante papel neste caminho cognitivo e salvífico da antroposofia. Contudo, permanece a controvérsia entre a teologia cristã e a antroposofia, quanto a poder-se identificar o Cristo do Novo Testamento ao Cristo de Steiner.
            No sistema antroposófico, a reencarnação e a doutrina do karma têm lugar central.  (pg. 187)
            Ela (a antroposofia) põe-se em confronto com as noções materialistas de evolução, de Darwin e Haekel. Para a antroposofia, já se percebe pelo nome, a questão sobre a essência do homem tem prioridade. (pg.188)
            Através de Steiner e da antroposofia a ideia de reencarnação atingiu sua máxima abrangência no Ocidente, com isto levando o otimismo-evolucionista à outras camadas, especialmente a dos eruditos.

Os Gurus: Doutrinas orientais para ocidentais em busca de sentido.

            Nos anos sessenta do século XX os movimentos de protesto cristãos se depararam com uma inesperada concorrência. Novos movimentos originados da religiosidade oriental se espraiavam pela Europa e América do Norte. Eram missionários, algo agressivos, que se voltavam especialmente para os jovens. Através dele intensificaram-se no Ocidente as crenças na transmigração das almas, particularmente entre os jovens daquela geração. (pg. 213)

Obs: Segue uma lista de nomes e seus respectivos ensinamentos. Como era de se esperar. São citados: Vivekananda, Prabhupada, Ramakrishna e Aurobindo. O tópico seguinte, sobre reencarnação na Nova Era, apresenta uma exposição genérica sem grandes detalhes ou novidades, enfocando os trabalhos de Kübler-Ross, Ian Stevenson e pesquisadores do centro de estudos psíquicos de Freiburg.


Capítulo VIII: Reações da Igreja e novas abordagens teológicas.

            É um sinal de alarme, um desafio das igrejas confessionais e livres, que as ideias reencarnacionistas tenham sido recebidas com simpatia por muitos grupos cristãos a partir do século XIX. Na pergunta central sobre o de onde e para onde do homem, após a vida e a morte, as doutrinas tradicionais das igrejas perderam paulatinamente em plausibilidade e atração. (pg. 230)
            Paul Althaus, por exemplo, é um dos teólogos mais renomados da tradição luterana, e defensor de uma versão esclarecida do Cristianismo, onde nenhuma noção de imortalidade possui lugar. (pg. 235)
            Nas igrejas ortodoxas a ideia de um renascimento é eliminada a partir da condenação oficial de toda espécie de preexistência da alma, em 553 d.C. A longa história do combate às heresias é, ao menos em parte, a história da guerra da Igreja contra a crença na reencarnação. (pg. 236)
            O cientista da religião e teólogo Hans Waldenfels chegou ao seguinte juízo: “Não há reconciliação possível entre a fé cristã e uma doutrina reencarnacionista consequentemente compreendida.” (pg. 238)

Obs: A lista de teólogos que se posiciona contra a reencarnação é bastante longa, mas seus argumentos não divergem destes: problema da preexistência; problema da completude da vida cristã, que os teólogos veem como negada pela ideia de um retorno à vida.

Um dos exemplos mais proeminentes de simpatia pela reencarnação é a postura de Ernst Troeltsch, um dos mais importantes representantes da teologia liberal e influente cientista da cultura. (pg. 246)
            Nas palavras de Troeltsch, há duas opções para o problema da alma: “Resta-nos somente a predestinação, uma participação desigual dos indivíduos nos suprema e absoluta finalidade do mundo, ou um retorno ao corpo que leve todos progressivamente à santidade ou a uma transformação após a morte, ou talvez estas duas relações juntas. Não nego que eu esteja mais inclinado para esta última doutrina, tal qual Lessing.” (pg. 247)

O autor: Helmut Obst destacou-se no final de sua carreira pelos estudos sobre elementos religiosos de culturas estranhas ou ideias consideradas novas na tradição cristã. Foi um dos intelectuais de projeção da Universidade de Halle, especializada nas relações e debates entre ciência e ocultismo, bem como no movimento pietista. A reencarnação e o Espiritismo são alguns de seus temas favoritos neste período.

Bibliografia

OBST, Helmut. Reinkarnation: Weltgeschichte einer Idee. München: Verlag C.H. Beck, 2009.